segunda-feira, 10 de junho de 2013

Comida que emociona





(Imagem: William de Moraes)
A família reunida em volta da mesa, o cheirinho que vem da cozinha, os filhos ansiosos pelo prato especial da família, os elogios, a mesa arrumada. Esses elementos formam a nossa relação com a comida e constrói memórias que podem fazer muito bem...

O azeite esquenta na panela e recebe um punhado de alho picadinho. Na sequência vem a cebola em cubos e ssscchhh!!!, o barulho do refogado e o cheirinho de tempero invadem toda a casa e atiça o olfato preparando o paladar. Se você conseguiu sentir esta cena, então você é como todo ser humano normal que relaciona o cheiro a alguma emoção vivida e aí entra o papel importantíssimo da alimentação nesse processo de memórias.

O cheiro de pão quentinho saindo do forno é como abraço de mãe para Aline Amaral. A estudante de 16 anos desistiu de estudar fora de casa por não suportar ficar longe da comida da mãe. “O tempero dela faz o prato mais simples ter um sabor especial. Sentia muita falta, por mais que onde eu morasse tivesse comida boa”, explica a garota para orgulho da mãe, uma cozinheira de mão cheia. “Eu aprendi a cozinhar ainda criança e adoro fazer comida para minha família. É minha forma de falar eu te amo para eles. Quando sentamos à mesa e eles elogiam o sabor do alimento, eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo”, se emociona dona Dalva, a mãe da Aline, mexendo um arroz fresquinho.

Esta relação emocional com a comida pode não ser percebida por todos, mas é interiorizada e dita nossas escolhas. O cozinhar é uma forma de declarar amor e une os membros da família. O problema disso tudo é que com o passar dos anos fica cada vez mais difícil encontrar pessoas que cozinhem. Com a entrada e o crescimento da mulher no mercado de trabalho, fazer comida ficou em último lugar e se torna algo que as moças nem fazem mais questão de aprender para casar. Ou você anda vendo nora e sogra disputando a preferência do noivo nos dias de hoje? Raro, quase extinto. Mas ao deixar esse costume de lado, foram sendo deixadas também importantes ligações entre os familiares e os cônjuges, e o valor nutricional da alimentação caiu junto.

Na pressa do cotidiano sem calma as comidas prontas formam o cardápio moderno que todos sabem ser nada saudável, pior: é viciante. Um estudo feito pelo Scripps Research Institute, da Flórida, comprovou que a compulsão por comidas gordurosas como doces e frituras age no cérebro como a compulsão por cocaína ou heroína. 

Além de difícil tratamento, esse comportamento com a comida desativa no cérebro áreas ligadas à satisfação, ou seja, quanto mais se come, mais vontade dá de comer. Os resultados o mundo vê na forma de obesidade que já virou epidemia. O mundo globalizado produz muito mais comida do que dá conta de comer e mesmo assim existem milhões de pessoas com fome e quase o dobro disso de gente precisando perder peso. Não parece maluca essa relação com a comida?

Slow Food X Fast Food

É na contramão da industrialização dos alimentos que corre o italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, que tem uma subsede no Brasil. Ele prega a comida sem pressa, feita em casa, com poucos ingredientes e usando o que se produz na região. A ideia é um retorno à comida da vovó e rejeitar a massificação da comida em que tanta oferta faz com que não demos valor ao real sentido do alimento, que é nutrir não só o corpo, mas as emoções. Para o italiano que foi apontado pelo jornal inglês The Guardian, como uma das 50 pessoas que podem salvar o planeta, a valorização do agricultor e da agricultura familiar, orgânica e saudável é o caminho do retorno para a saúde.

Ter uma horta em casa, comprar na venda da esquina, trocar produtos naturais com o vizinho e fazer o filho entender de onde vêm os alimentos parece até utópico pois a maioria das crianças que vive na cidade nunca parou para pensar se os ovos vêm de fora ou surgem na geladeira, acreditam que leite vem da caixinha e amendoim dá em árvore. Não é exagero afirmar que muitos nunca viram uma plantação ao vivo.

Mas como juntar de novo a família fragmentada em volta da mesa? Mulheres modernas como Ana Paula Sebastian, 35 anos, 2 filhos, acham um sonho inatingível. “Eu não sou boa no fogão e mal sei fritar um ovo. Até tenho vontade de fazer uma comidinha em casa, mas as crianças não podem ver salada e preferem mesmo é um lanche no shopping”, admite frustrada a secretária paulistana.

No interior, ainda se vê a tradição de juntar a família nas refeições e assuntos polêmicos ou brigas são proibidos. Curiosamente, é lá no interior que as doenças demoram a chegar e o estresse ainda é doença estranha de gente da cidade. “É preciso entender que deve existir um clima especial em volta da mesa para a comida ser de fato saudável. Se ao se juntar para comer, e no lugar de harmonia houver gritaria, cobranças e clima de discórdia, a criança vai vincular essas emoções à sua relação com a comida. Se houver brigas durante a comida caseira, faz menos mal um fast food”, pondera o psicoterapeuta Marco Antonio De Tommaso. Para ele, o que a criança vê a influencia. Se tem sempre saladas, comidas saudáveis, ausência de refrigerante, isso molda o comportamento dos filhos.

Sentidos da vida

O fato é que alimentar-se envolve os cinco sentidos: o cheirinho do bolo quase pronto, a fumacinha subindo dele ou a margarina escorrendo sobre o pedaço ainda fumegante, o sabor de chocolate, fubá, maçã e a textura macia ou cremosa que percebemos ao passar o dedo sobre a cobertura ou empurrá-lo com nossos dedos. O clima na cozinha, o tempo para o bate-papo enquanto tudo é preparado, o cheiro de canela, a criança que se lambuza limpando a fôrma, são elementos que dão significado à interação das pessoas com os alimentos. Nosso cérebro registra tudo isso e compõe imagens e cheiros que nos acompanham por uma vida. 

Mas se você está se sentindo culpado, calma lá. A psicóloga Maria Marta Ferreira ressalta que as mudanças sociais levam as pessoas a se adaptarem. “Muitas mulheres não cozinham, mas elegem o restaurante preferido da família e se reúnem para momentos especiais. Outras reservam hora para buscar o pão quentinho da padaria preferida da família”. Para a especialista em alimentação e transtornos alimentares, a comida não é apenas nutrição e sustento para a vida: “Está repleta de cores, sabores, odores e texturas que ajudam as pessoas a demonstrar afeto e celebrar dias especiais, nem que o bolo seja comprado no supermercado. Isso é mais forte que modismos ou conveniências. É humano e vai resistir aos modernismos.”

Mesmo que o talento de cozinhar não seja inerente à todas as famílias – e não é papel exclusivo feminino – o retorno à comida de verdade, com cheiro e lembranças, faz parte de um movimento mundial encabeçado por vários chefs. Uma destas especialistas das panelas é a chef e proprietária do restaurante Tordesilhas, em São Paulo, Mara Salles. “Eu cozinho lembrando da casa da fazenda onde eu cresci, e minha relação com as panelas é na tentativa de imprimir a mesma emoção em quem come minha comida. O alimento preparado com amor transfere esse sentimento. É aquela comida simples, mas quentinha, feita pra você e isso tem peso de saúde.

Um arroz com feijão feito assim é imensamente superior à comida fina e chic”, acredita Mara. Ela e outros chefs ao redor do mundo marcham contra essa gastronomia experimental e conceitual, “pois acreditamos que a comida é uma declaração de amor e muitas pessoas estão buscando isso, voltando às raízes, em busca do conforto que a comida com amor proporciona. É aquela comida que traz lembranças, que é até capaz de emocionar”.

Relação vital

Para quem lida com transtornos alimentares e ensina a controlar a comida é visível o papel da alimentação e as influências da infância. Maria Elisa Zuccon, criadora do método Meta Real de emagrecimento e reeducação alimentar acredita que os distúrbios na vida adulta têm a ver com a sensação que a comida provocava na infância. “A comida está tão intimamente ligada às emoções que nós conseguimos atribuir um alimento à cada situação. Afinal, quem imagina dia dos namorados sem chocolate?”, indaga.

O conforto relacionado ao alimento começa ainda bem cedo, segundo Tommaso. “Um exemplo é o bebê que chora mesmo tendo mamado há pouco e sossega ao ser colocado no peito de novo, pois é a sensação de segurança, amor e carinho que o faz parar de chorar.” Pode ser que você leitor esteja pensando quando poderia cozinhar em casa, com a família e envolver a todos no processo da comida. Um fim de semana seria o ideal para isso, mas antes você tem que entender a importância de relacionar a comida com algo vital, e que não pode simplesmente se reduzir a coisas que usamos para nos empanturrar e aplacar uma fome com pressa, ou almoçar na companhia de um filme da TV.

A relação é tão notável que é só pensar: Podendo escolher, você prefere a comida de um bandejão, jogada em grandes quantidades ou um prato, ainda que simples, mas servido com arrumação e capricho? Não tem jeito, dá para perceber e sentir amor até em um prato de comida benfeito. Se a comida for preparada por quem amamos ou para quem amamos, tem ainda mais sabor e até dói jogar fora os restos, pois foi um sentimento desprendido ali.

Na próxima vez que ouvir o burburinho na beira do fogão, os amigos e parentes conversando ao redor da mesa, os gritinhos das crianças, os suspiros ao degustar um prato gostoso, lembre-se de que a comida é parte da vida e a vida precisa ser com saúde. 

Dicas para aproveitar melhor as refeições

  • Se a família come fora todos os dias, escolha um dia da semana para comer em casa, uma comida caseira.
  • Envolva as crianças no preparo, seja na cozinha ou arrumando a mesa.
  • Lembre histórias e fale de assuntos interessantes durante a refeição.
  • Combine com mais familiares para tornar a refeição um encontro familiar.
  • Enfeite os pratos e capriche nos temperos.
  • Resgate receitas de família e conte histórias sobre elas.
  • Nunca xingue, critique ou traga assuntos desagradáveis à mesa.
Alimentos das emoções

Veja abaixo uma seleção de alimentos que ajudam a manter em dia as emoções. Observe o que deve ser incrementado no cardápio e o que deve ser reduzido ou eliminado.


(Imagem: Rogério Chimello)
Contra nervosismo

Aumente o consumo de
Aveia
Nozes
Alface
Maracujá
Abacate





(Imagem: Rogério Chimello)
Elimine o consumo de

Açúcar branco
Bebidas alcoólicas
Refrigerantes
Café
Chá-preto, chá-verde
Chá-mate






(Imagem: Rogério Chimello)
Contra hiperatividade e agressividade

Aumente o consumo de

Aveia
Trigo integral
Arroz integral
Nozes
Semente de girassol
Laranja




(Imagem: Rogério Chimello)
Elimine o consumo de

Corantes artificiais
Aspartame
Refrigerantes
Açúcar branco
Bebidas alcoólicas
Carne
Guloseimas
Café
Chá-preto, chá-verde
Chá-mate


(Imagem: Rogério Chimello)
Contra depressão

Aumente o consumo de

Aveia
Grão-de-bico
Nozes
Amêndoas
Abacate
Laranja, tangerina
Castanha-do-pará
Pinhão
Banana


(Imagem: Rogério Chimello)
Elimine o consumo de

Gordura saturada
Corantes artificiais
Aspartame
Refrigerantes
Açúcar branco
Bebidas alcoólicas
Carne
Guloseimas
Café
Chá-preto, chá-verde
Chá-mate


(Imagem: Rogério Chimello)
Contra estresse

Aumente o consumo de

Batata-doce
Inhame-chinês
Arroz integral
Grão-de-bico
Ervilha
Nozes
Amêndoas
Laranja, tangerina
Banana
Semente de girassol


(Imagem: Rogério Chimello)
Elimine o consumo de

Gordura saturada
Corantes artificiais
Aspartame
Refrigerantes
Açúcar branco
Bebidas alcoólicas
Carne
Guloseimas
Café
Chá-preto, chá-verde
Chá-mate

Fabiana Bertotti é colaboradora especial  de Vida e Saúde

[Fonte: Revista Vida e saúde – Dez 2010, p.10 a 15]
Fonte: http://www.educacaoadventista.org.br

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Editado por Danilo Marques